Tira a cerca, vai?

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Diante da regulamentação apresentada pela prefeitura de Belo Horizonte para a ocorrência de eventos na Praça da Estação, podemos até aceitar, em último caso, que nessas ocasiões sejam cercados o monumento central, os jardins e as árvores, já que se insiste em manter à tona o tão conhecido discurso da preservação do patrimônio (leia-se: maquiagem da cidade para a realização da Copa 2014).

No entanto, a presença da cerca ao redor da praça é lamentável, absurda e, a propósito, desnecessária. Quem se interessar por prestigiar esse ou aquele evento não deixará de permanecer, da mesma forma, sobre o chão da praça, com a única diferença de que estará do lado de fora do espaço delimitado pela mesma. Dessa maneira, é evidente que a cerca não atende ao objetivo de controlar a quantidade de pessoas naquele espaço, na ocasião de um evento de grande porte.

Além disso, o que se tem percebido é que a montagem e desmontagem da estrutura de cercamento é um processo demorado, que ocupa a praça não somente no dia do evento, mas em dias anteriores e posteriores ao mesmo, impedindo a livre circulação e a permanência de pessoas naquele local. Quem espera ônibus em pé debaixo de sol forte é privado, por exemplo, de usufruir dos acentos dos bancos ou da sombra das árvores da praça, que acabam sendo envolvidos pela cerca. E mais: como ficam os grupos que se reúnem freqüentemente naquele espaço para trocar experiências e engatar ações, como o pessoal do malabarismo, que se encontra toda terça-feira; o pessoal da Bicicletada-BH, que se encontra toda última sexta do mês e o pessoal que eventualmente promove rodas de conversa e saraus de poesia por lá?

Mesmo nas situações em que não se exige que a entrada na praça seja (absurdamente) trocada por quilos de alimentos não perecíveis – o que obviamente exclui aqueles que não podem ou não querem topar essa barganha –, a cerca será sempre uma barreira, pode intimidar e reduzir pela metade a espontaneidade da aproximação de pessoas que por acaso estejam passando pela praça na ocasião do evento. E quem se dispõe a enfrentar a fila para entrar acaba tendo que passar, inevitavelmente, pelo julgamento e pelo crivo de quem se encontra na função de controlar a entrada, que pode fazer uso de critérios nada imparciais para selecionar quem entra e quem fica de fora, quem parece ser arruaceiro ou não, quem tem os pés descalços ou não, quem se encaixa ou não no “perfil” do evento, se é que me entendem.

Praça que é livre não tem cerca. Gente que é livre não tem cerca.

TIRA A CERCA, LACERDA!

3 Respostas to “Tira a cerca, vai?”

  1. Armando Pontes Says:

    Outras indignações com o cercamento da praça:

    http://vivafavela.com.br/materias/fit-cerca-e-imp%C3%B5e-portaria-na-pra%C3%A7-da-esta%C3%A7%C3%A3o

  2. Carlos Alberto Says:

    Vamos tuitar: TIRA A CERCA, LACERDA!

  3. lucasparisi Says:

    é chocante!!!

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